quinta-feira, dezembro 18, 2008

GLORIA A DEUS NAS ALTURAS PAZ NA TERRA


Dezembro já vai a metade do seu calendário. O dia, hoje, apesar de bastante quente, foi lindo. O termómetro marcou 36 graus, temperatura normal nos principios do Inverno, aqui no Darfur. Contemplei a maravilha do pôr-do-sol, nos seus últimos instantes quando, submisso, desaparecia no vasto e limpo horizonte.


A noite veio silenciosa, trazendo a aragem cortante e seca que, com o avançar do Inverno, se transformará num vento gélido, muito dificil de suportar para as tantas e tantas familias sem casa de paredes sólidas e sem roupa de de agasalho. Nos lugares mais remotos e mais expostos ao efeito da desertificação, quando a tempertatura nocturna desce rigorosamente, há quem se refugia em fossas que escavam na terra/areia, procurando abrigar-se do vento sibilante.


Esta noite não se ouvem disparos. Os aviões e helicópteros de guerra, geralmente, também se retiram, ao escurecer. Felizmente, porém, tão pouco se tem notado a sua acção nestes dois últimos dias. Será este, finalmente, o sinal da paz que espera esta terra?


Afastem-se para longe os corações de pedra! Apareçam corações de carne e com humanidade, que saibam dar uma oportunidade à Paz no Natal que está a chegar. Façam os reis e senhores do mundo um acto de vontade! Unamos todos, pequenos e grandes, as nossas vozes e vontades em favor do grande e incomensurável projecto humano-divino! Venha a Paz para o novo ano 2008 e fique para sempre entre nós, no Darfur e em todo o universo!


Na oração desta noite, os meus olhos ficam, como que por encantamento, parados no verso 8 do salmo 142: "faz que eu sinta, desde a manhã, a tua bondade, porque é em ti que eu confio, (Senhor)". Sim, desde a manhã e pelo dia adiante, neste mês e no próximo ano, sempre! Sintamos todos a tua bondade, a tua benção de paz!


Os colegas da missão já se retiraram para o descanso merecido da noite. De kispo ligeiro pelas costas, venho para o pátio da missão. Fico, por uns instantes, a apreciar o tão raro e quase misterioso silêncio. Depois, quedo-me a olhar o céu pontilhado de astros. E dou comigo a pensar numa estrela única e sem igual, muito querida e desejada por todos. Não a distingo entre a multidão incontável que enche o firmamento, mas também não faço questão por isso. Nao é uma estrela qualquer das que habitam o espaço celeste.


A sua presença nao é notória, mas sei que está ali. Esta certeza conforta-me e conduz-me até à mencionada estrela. Ela própria me leva até à gruta onde está aquele que é a esperança do mundo. É um menino de nome Jesus. Um grupo de pastores tinha, também, apenas entrado. Entre louvores e parabéns, acenei à sua mãe Maria que me pôs à vontade com o recém-nascido. Não só ela mas também José, seu marido, ficou contente por me ver conversar com o menino.


- Muita gente fala do Natal, do teu Natal, ó meu pequeno Jesus! Mas, a tua mensagem de paz não entra nos seus planos e não tem prioridade na sua vida. De ti, apenas sabem o nome, mas já estou a vê-los a bambolear-te de mão em mão, falando de paz como pretexto para a guerra. Porque não inventas a arma da paz como eles inventam, constantemente, as armas da guerra?


O Menino olhava insistentemente para o alto, sinal claro de um convite que eu resistia em acolher e aceitar. Disse-lhe: não estou mais interessado em olhar para as alturas do céu estrelado onde se te confunde e ficas irreconhecivel entre miríades de astros.


Ele sorriu, apontando ainda na mesma direcção, vencendo a minha teimosia. Olhei. Estrelas transformavam-se em letras do alfabeto e, deslocando-se, procuravam, à porfia, ter um lugar no arranjo das palavras que se liam em qualquer direcção dos pontos cardeais: "Gloria a Deus nas alturas e Paz na terra aos homens de boa vontade". Verso do Livro Santo que une a terra ao céu na melodia celestial que os anjos cantavam sem interrupção.


Agora que o dia de Natal está mesmo à porta, Saná – uma menina de sete anos que vive aqui em Nyala – vem-me ao pensamento. Ela sabe que Deus não ama a guerra e que nos enviou a prenda mais bela, jamais suficientemente agradecida pelos que habitamos a terra: Jesus, o Principe da Paz. Se, pelo menos, o mundo tivesse em consideração a pergunta que a pequena Saná, alguns dias atrás, me pousou: porquê a paz está a demorar tanto em chegar?


Naquele dia, enquanto esperava uma resposta para a sua pergunta, a menina aprendeu uma nova oração que, a seguir, rezou com o seu grupo de catequese: destroi, ó Deus, os muros do ódio, entre as nações; aclara o caminho para aqueles que trabalham pela paz.

Votos de um santo e feliz Natal,

Próspero ano novo,

Repleto de PAZ!

Feliz da Costa Martins

Nyala – Darfur Sudão

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