sábado, setembro 29, 2007

Testemunhos do genocídio de Darfur

Hawa Bakheit Adam, Mulher de 35 anos, procedente de Habila, Darfur Ocidental

“Às vezes vamos recolher sementes, para vender no mercado e comprar coisas que necessitamos para os nossos filhos. Eles (os janjawid) enviam duas pessoas e os outros preparam uma emboscada. Param o carro num vale ou numa colina. Alguns actuam como guardas, então as duas pessoas cercam-nos e, quando as vemos corremos. Algumas fogem, mas outras apanham-nas e levam-nas para viola-las […] violam-nas em grupo. Pode acontecer 20 homens violarem a mesma mulher […] A ultima vez apanharam algumas mulheres e não sei o que lhes aconteceu; saímos a correr.”

Os homens, quando os apanham, colocam-lhes celas de montar às costas como se fossem burros. O meu irmão foi um deles. Colocaram-lhe uma cela de montar nas costas e ataram-na com força à barriga. Colocaram algo no seu rabo para que parecesse que tinha cauda. Arrancaram-lhe os testículos para que todos os vissem […] encontrámo-lo e levámo-lo ao hospital de Al Genaina para receber tratamento.

Para nós estas coisas são normais aqui no Darfur. Estas coisas estão sempre a acontecer. Também vi violações. Não importa quem os vê violar as mulheres, não os preocupa.
Violam as mulheres à frente das suas mães e dos seus pais.”

Homem masalit (um povo do Darfur) procedente de Tomfoga, Darfur Ocidental.

"Os janjawid expulsaram-nos das nossas casas. Ainda lá estão, esperando-nos no khor [pequena depressão criada por um curso de agua sazonal]. Se um homem vai ao campo, lhe darão uma tareia. Se for uma mulher… às mulheres fariam-lhes de tudo."

Mulher masalit de 35 anos, da localidade de Tungfuka, Darfur Ocidental.

“Durante os dois anos que estávamos em Mornay, a situação piorou constantemente. Às pessoas desalojadas que abandonavam o campo de refugiados matavam-nas e às mulheres violavam-nas.

"A UA [a AMIS] não tem nenhuma presença no campo de refugiados internos nem em Mornay. Quando está presente, os janjawid não se atrevem a atacar. A UA não se importa com os refugiados. Não faz nada quando nos queixamos. Se violam as raparigas nos arredores do campo, a única coisa que faz a UA é levar a rapariga de novo ao campo. Não realiza nenhuma investigação sobre o sucedido. A ONU faria muito melhor que a UA. Quando violam a uma rapariga esta volta com a sua família, tem o bebé e cria-o, porque o infanticídio seria haram [está proibido]"


Mulher masalit de 24 anos, da localidade de Tullus, situada sudoeste de Beida, no centro de Darfur.

“Os janjawid atacam os arredores do campo: matam os homens, violam as mulheres e roubam os bens. Vão de camelo e levam uniforme caqui. Pouco antes de marchar para o campo de Habila, disseram-nos, a mim e às outras mulheres: "Se vão para o campo nós vos mataremos". Os janjawid estão à entrada do campo, e o exército, dentro. Às vezes os janjawid entram. As condições de segurança no campo têm piorado nos dois últimos anos.

Os desalojados internos que tem meios para ir para o campo, fazem-no. Os homens enviam primeiro as mulheres e se reúnem logo com elas.

O exército proibiu as mulheres violadas de ir ao hospital de MSF [Médicos sem Fronteiras, organização humanitária internacional] do campo para que atendam-nas ou para que denuncie-los. As mulheres têm medo de ir, porque há pessoas locais sudanesas que poderiam contar. Assim as mulheres violadas vão a um centro médico da cidade de Habila.

Não podem voltar com sua família pela vergonha, de maneira que ficam no centro médico até ao parto. Quando fui ao campo de Habila havia quatro jovens neste centro, incluída uma rapariga de 10 anos. Algumas mulheres abortam. As que dão à luz não ficam com o bebé. Se se leva o bebé o exército manda-o para um orfanato.”

Mulher masalit de 50 anos, procedente originalmente da localidade de Haroniya, situada na zona de Gondo, cerca de Dabbe, no centro de Darfur.

“Em Agosto de 2003, os janjawid atacaram o meu povo a cavalo e em camelos, vestidos com uniformes caqui. Queimaram o povo e deixaram 12 mortos. Os meus familiares se dispersaram depois do ataque, e a mim roubaram-me o gado. Fugi para a cidade de Masteri; demorei quatro dias a chegar. No campo [para refugiados de Masteri], os janjawid roubaram-me o cavalo.

Em Masteri, os janjawid, dos arredores do campo ameaçam sistematicamente as pessoas que saíam com lenha e água. A situação tem piorado dentro do campo, porque os janjawid, vestidos de uniforme, estão causando muitos problemas aos refugiados. O exército permitiu-os de entrar no campo em 2003, e continuam fazendo saques nele. Não há forma de denunciá-los, e quem o faz, matam-nos. Não há presença da UA [a AMIS] no campo de Masteri.”

Mulher masalit de 30 anos, procedente de Kunjulteh, ao sul de Misteriah, Darfur Ocidental.

“Um dia em que me tinha atrasado recolhendo lenha, lá pelas seis da manha, chegaram três janjawid. Vestiam uniformes militares e estavam armados com pistolas e chicotes. Me disseram: "Vem e fica connosco". Queriam dizer que seria da sua posse, como uma escrava para eles. Neguei-me, e então começaram a golpear-me, mas defendi-me. Lutaram comigo e ameaçaram-me durante três horas. Deram-me chicotadas com frequência (assinalaram uma marca no braço direito) e me bateram com as culatras das pistolas por todo o corpo.

Por fim, um grupo de mulheres que ouviram o ruído, chegaram correndo para me ajudarem. Desde o ataque sofro enjoos durante as horas calorosas do dia, que se deve aos golpes que recebi na cabeça.” In http://web.amnesty.org/pages/sdn-testimonies-esl


Temos que parar com este genocídio, já!

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